segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A Dama do Mar



Direção, cenário e conceito de luz: Robert Wilson
Co-direção: Giuseppe Frigeni
Texto: Susan Sontag baseado na peça de Henrik Ibsen
Baseado na peça de Henrik Ibsen – Tradução: Fábio Fonseca de Melo
Revisão e adaptação: Leila Guenther
Música: Michael Galasso
Figurinos: Giorgio Aramani
Desenho de luz: A.J. Weissbard
Assistência de luz: Fiammetta Baldiserri
Desenho de som: Peter Cerone
Visagismo: Luc Verschueren
Assistência de direção: André Guerreiro Lopes

Elenco
Lígia Cortez
Ellida Wangel
Ondina Clais Castilho
Hélio Cícero
Luiz Damasceno
Felipe Sacon
Bete Coelho – participação especial – Alternância de papéis

Projeto
Change Peforming Arts, Milão, Itália
Diretores artísticos: Franco Laera e Elisabetta di Mambro
Coordenadora de Produção: Virginia Forlani

Realização: SESC – Serviço Social do Comércio / SP
Presidente Conselho Regional: Abram Szajman
Diretor do Departamento Regional: Danilo dos Santos Miranda

(Informações do Programa Impresso da Apresentação no SESC- Pinheiros)


“Desejo e coragem de lutar pela inovação” (Giorgio Armani)

Ver teatro não tem sido tarefa fácil na nossa atualidade. Um sem número de experiências arrogantes tem se misturado aos projetos de estudo e de mergulho nas nuances de uma forma tão múltipla e encantadora. Quando se presencia uma busca intensa e, por assim, dizer, invasiva de nossa habilidade de nos deixar afetar, como “A Dama do do Mar” de Bob Wilson, tudo concorre para um momento de renovação, de vivificação, de doce angústia pelo espetáculo da vida.

Pressupondo que no teatro não há “nenhuma separação entre as várias expressões artísticas”, que “o que é visual e o que é sonoro são aspectos inseparáveis”, Bob Wilson compartilha com atores, que se permitem criar novos níveis de realidade, um mundo artificial, capaz de nos apresentar verdades profundas. Uma mulher-foca, que pode ser apenas uma mulher enfadada, que pode ser uma mulher reprimida, que pode ser uma mulher louca, se mostra nas suas entranhas para nós, os olhares estupefatos. Um tempo-ritmo que não se rende à velocidade dos cotidianos pós-modernos, que insiste em fazer revisar todos os hábitos de envolvimento e de leitura de uma obra teatral. Um espaço lúdico e surreal, deliciosamente simples e limpo, mas que transpõe a vida para múltiplos patamares de percepção. Ah... quanto é inspirador poder abandonar a verdade e criar uma realidade. E quanto é nutritivo para a imaginação e para a inteligência retornar desta aventura para um mundo fragmentado e confuso como o nosso atual.

A plasticidade da cena pode nos inspirar a recompor a plasticidade da vida, porque nos oferece as possibilidades de criação de sujeitos, a partir de nós mesmos, a partir de nos espelharmos no diferente. Um teatro poema que não está a serviço de uma realidade, porque consegue estabelecer novas realidades, que não se submete à vaidade de atores ou de grupos de atores, porque está voltado para uma percepção compartilhada da violência da nossa imaginação.  Um teatro para desorientar nossas capacidades intelectuais e irritar nossas concepções pequeno-burguesas de sucesso, de crítica, de qualidade.

Um mosaico belo e delicado de sons, cores e movimentos delineados pela busca da precisão. Seres pós-humanos dispostos a se relacionar com humanos que fingem não estar presentes, que acatam os longos silêncios, e que, talvez,  não estejam confortáveis nas suas cadeiras por tanto tempo, olhando para um nada, uma constante dúvida sobre a coerência e sobre o delírio.

Me veio uma necessidade de voltar a este espetáculo, verdadeiramente um espetáculo, por ter medo intelectual de me contaminar pela ingenuidade capitalista do teatro feito para si mesmo. Do teatro feito para forçar a capitalização e não a experiência. Por precisar me lembrar a mim mesma que, antes de tudo, teatro tem um papel social muito importante, mais importante que a continuidade de um grupo, ou a vivencia individual de um processo de trabalho... Teatro é uma expressão de alteridade. Sua perspectiva é, para mim e também para outros embora não para todos, um contexto de aprendizado sobre o outro. Uma relação para a redescoberta da vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

.Saber falar de sua história e saber viver sua história.