Direção Geral e Argumento:
Carlos Gradim
Dramaturgia:
Edmundo de Novaes Gomes
Elenco:
Geraldo Peninha, Leonardo Fernandes
Ator convidado:
Sávio Moli
Criação de Imagens: Clarissa Campolina
Designer de Luz: Telma Fernandes
Trilha sonora: Dr. Morris
Produção Musical: João Antunes
Voz da Canção: Regina Souza
Cenografia e Figurinos: Niura Bellavinha
Preparação Vocal: Rose Gonçalves
Preparação Corporal: Suely Machado
Assistente de Direção: Leandro Daniel Colombo
Assistente de Produção: José Luís Silveira
Cenotécnico: Joaquim Pereira
Direção de Cena e Operação de som: Tacito Cordeiro
Operação de Luz: Edimar Pinto
Costureira: Maria Socorro Teles
Fotografia: AC JR e Guto Muniz
Assessoria de Imprensa: Jozane Faleiro
Assessoria Jurídica: Drummond & Neumayr
Gestores Financeiros: Luiz Guimarães e Clac Cultural (Cris
Lima)
É
curioso observar a ficha técnica deste espetáculo... Faz pensar na enormidade
de uma equipe necessária para alcançar um bom trabalho. Desde as escolhas de
texto e de desenho de cena até o modo como se anuncia a chegada de um novo
trabalho de teatro na sociedade, nas cidades, na vida de quem vive o teatro,
tudo são elementos de uma rede que
compõe e dá ordem a um resultado respeitável e consistente. Este é o caso de
Horácio.
“O percurso dramatúrgico
de HORACIO surge de dois textos diferentes. O primeiro, a novela O HOMEM COMUM,
de Philip Roth. O segundo, a prosa poética HORACIO, de João Gabriel Furbino,
ainda inédita em livro. Em comum os dois textos possuem um desejo: falar da
vida naquilo que ela pode ter de mais decisivo. Assim, HORACIO é uma alegoria
na qual as metáforas se apresentam a partir daquilo que eu, que você, que cada
um de nós pode (ou não!) viver.”
Edmundo Novaes.
O
que tem a vida de decisivo, que o teatro pode mostrar, desvendar, revelar,
repetir... Na conversa de um homem consigo mesmo, durante seu velório, diante
da morte e das pessoas que são atraídas por ela, podemos encontrar uma vida
estarrecedora e duvidosa. No espaço cênico que não exprime um lugar, talvez,
exprima um não-lugar, tomamos contato com a terrível certeza que podemos ser
esquecidos, abandonados, relegados ao passado e à memória frágil de
acontecimentos que não foram, afinal tão marcantes assim.
O
espaço cênico de HORACIO é um labirinto de luz e transparências. Suas
paredes-biombos escondem e revelam humanos, inumanos e pós-humanos. Homens que
foram vivendo uma vida na medida em que ela a eles foi se dando. Espíritos
ainda insipientes das coisas da vida, que se foram forjando nas memórias, pois
os acontecimentos só adquiriram significado muito tempo depois de acontecidos.
E homens cheios de bengalas e muletas, tecnológicas como uma caneta e um
relógio, que marca uma hora inacreditável de ir-se embora, ou fantasmagóricas,
que nunca são visíveis, mas muito presentes.
São
paredes transparentes que apontam a consciência e a dúvida que somos e vivemos,
diariamente, como um cotidiano anti-poético. Um cotidiano cruel e avassalador
que nos compromete com nossas próprias mentiras e maldades. Que nos amolece com
amores inconfessáveis que nem vivemos plenamente, por incompetência pura. A luz
que as atravessa faz brilhar as presenças, faz com que as sombras surjam e
desapareçam, como em nosso pensamento. A sutileza da entrada das cores e dos
tons pastéis, ilumina uma fantasia teatral de um pós-humano desgastado, cansado
e vivo. Ou quase vivo. O quase vivo é que nos angustia, pois a presença não
consegue mais realizar nada, não existe de fato, é só memória do fazer.
Os
figurinos não aumentam nem diferenciam aquela alma. São realistas, cotidianos e
pouco informam a fantasmagoria. No desejo de enxergar aquelas almas, preferiria
ter visto a irrealidade mais presente, roupas mais contundentes, que não se
restringissem a vestir os atores. Claro, que não sendo eu a fazer o espetáculo,
posso apenas dizer de uma sensação de fruidora: não fizeram diferença. Os
objetos, cumprem papel de praticáveis, não interferem poeticamente, e só contribuem para uma movimentação ou outra.
As
atuações é que fazem explodir o espaço e mudar o tempo. Os atores se colocam,
são intensos e verticais. Como diz Peninha no programa: “o texto é um desafio
por fugir dos padrões comuns e a direção nos incentiva o tempo todo a descobrir
o prazer que existe no risco. Surpreendente e estimulante! Dois adjetivos que
todo ator agradece ao encontrar no trabalho”. Os atores transparecem gostar do
que fazem, exploram suas frases e palavras, meio soltas, meio arquetípicas,
meio normais, meio engraçadas. Ocupam os espaços vazios do tablado aparente com
um corpo vivo e confuso, como uma alma penada e desconectada. Livre para ser um
fantasma.
HORACIO
de fato é um trabalho cheio de qualidades teatrais. Palavras intensas, jogos
atraentes, luzes e cores que constroem presenças, que ressignificam a vida, que
trazem um masculino pós-moderno: confuso, adocicado, delicado, crível. A realização
plástica de HORACIO é contundente na atuação, no espaço e na luz. A teatralidade flui. Bom
ver teatro bom.