quinta-feira, 20 de junho de 2013

#tudodenós



“Um espetáculo autobiográfico sobre quatro jovens amigos que, reunidos num quarto, revivem, encenam e discutem questões de sua adolescência e juventude. Laura, Luciana, Malu e Matheus são os atores-personagens da peça, cuja dramaturgia reúne prioritariamente textos escritos por eles como cartas, excertos de diário, entre outros, que são assumidos tanto pelo seu autor quanto pelos colegas. Aos textos pessoais somam-se fragmentos do clássico romance O apanhador no campo de centeio (J. Salinger), músicas, manifestos, imagens, buscando recriar o imaginário desses personagens.” (Texto do Programa)

Textos e Atuação: Laura Canedo, Luciana Leitte, Malu Falabella e Matheus Soriedem.
Dramaturgia e Encenação: Juarez Guimarães Dias e Léo Quintão
Preparação Vocal: Priscilla Cler
Espaço Cênico: Ed Andrade
Realização: Cia. Pierrot Lunar (BH/MG)
Projeto Pierrot Teen


O Projeto Pierrot Teen é o resultado do “encontro entre quatro jovens atores e uma companhia de teatro”. O objetivo é o de compartilhar a experiência profissional da Cia. Pierrot Lunar, sustentada nos pilares da pesquisa de linguagem teatral, do modo de ser ator e da dramaturgia narrativa construída em sala de ensaio. Segundo o Programa, a proposta para a elaboração do espetáculo surgiu de uma insatisfação dos jovens atores, que não se sentiam representados pelo teatro que faziam e nem pelo que assistem na atualidade. No decorrer de um ano de trabalho, o Projeto se desenvolveu por meio de encontros, workshops e a encenação propriamente dita. Este processo de formação é, no dizer de Juarez Guimarães Dias, “a formação do artista, que acredita a Cia., se realiza quando se decide escolher linguagens para expressar sua visão de mundo, assumindo sua personalidade e suas convicções e rompendo as fronteiras da vida social para interferir nela, provocar, dividir as incertezas”. Para alcançar estes desdobramentos, o teatro é reconhecido como “espaço de conhecimento e de experiência sobre aspectos da nossa existência”.

O Projeto Pierrot Teen é também um espaço de experimentação de aspectos da produção executiva dos espetáculos teatrais, e nesse particular lançou mão do financiamento colaborativo por meio de redes sociais, e com ele conseguiu os recursos necessários para viabilizar a cenografia, figurinos, iluminação, divulgação e remuneração de técnicos.

Durante a apresentação é possível perceber os princípios escolhidos pela Cia. Pierrot Lunar para a pesquisa sobre a atuação ao vivo, sendo desenvolvidos pelos jovens atores: a performance ator-narrador e personagem-narrador; a dramaturgia narrativo-descritiva e uma relação direta com o espectador. Ainda que estes princípios transpareçam estar em estado de iniciação, e que a movimentação e utilização do corpo como suporte da cena contenham certos clichês, tais como o “chão quente” e gestos evasivos de mãos e rosto, o longo caminho da formação se mostra na direção de realizar a proposta da consciência desta cena. Os textos tem carga dramática desenvolvida e se comunicam com várias memórias do espectador. Quanto à relação direta com este, pode-se perceber que está ainda no nível do espaço irreal de resposta, talvez porque os próprios espectadores não tenham sido “formados” para uma participação que completa o espetáculo.

Me parece importante chamar atenção para a necessidade de continuar pesquisando e preparando os jovens atores para a consistência do corpo em cena. Será necessário esclarecer as características corporais de cada atuante e auxilia-los a utiliza-las cenicamente. Um trabalho a ser desenvolvido pelos encenadores e pela Companhia, na medida em que o grupo puder se distanciar e observar-se a si mesmo. As ações vocais, que são inventivas e variadas, se tornarão mais e mais conscientes, na medida em que a convivência com a plateia promover a percepção e o domínio do ritmo da narrativa.

O método de formação em exercício, que é como entendemos a proposta do Pierrot Teen, é muito interessante e próprio ao trabalho de grupo. Transparece e encoraja a pesquisa da Cia. e dos atores em formação, na medida em que leva para cena as próprias questões que dele emergem. Parece haver uma iminência de reflexão sobre os resultados individuais dentro desta formação, papel que o diário de trabalho deveria auxiliar a cumprir, e que certamente a direção do projeto tem levado em consideração.
A encenação é leve, colorida, intensa e provocativa. Como a adolescência que ela procura retratar. A escrita cênica, objetivo da pesquisa da Cia Pierrot Lunar, vai se desenhando pela atmosfera de intimidade e de confissão que se instaura entre a área de jogo cênico e a área de acomodação dos espectadores-participantes-ouvintes. A fragmentação é um pano de fundo que dá conta tanto do universo lúdico ao qual somos convidados, de juventude e suas crises e descobertas, quanto da sua presentação no ambiente que nos reunimos. Cenas e assuntos aparentemente desconexos entre si vão compondo diante de nossa percepção seres imaginários e suas vidas. A proximidade entre nós faz com que nos vejamos a fundo, partilhemos pequenas reações e alguns sustos. A iluminação suave que contempla todos os presentes, nos fazendo sentir parte de uma “parede” que protege os atores-personagens do mundo de fora, completa nossa sensação de participar de momentos de sinceridade e de delírio, também próprios ao contexto do adolescente e do teatro.

A experiência de participar de um diálogo sobre nós mesmos, nosso eu jovem e o jovem da atualidade é deliciosa! Cada um destes atores-meninos-meninas certamente seguirá sua trajetória artística imantado pela certeza de que o teatro ultrapassa as barreiras contra o entendimento, a verdade e a justiça, porque encoraja a fantasia, o afeto e o pertencimento a uma comunidade, por maior e mais fragmentada que ela seja.

www.pierrotlunar.com.br