sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Critica e Percepção em John Dewey


CRITICA E PERCEPÇÃO

Jonh Dewey
(Arte como Experiência.
Ed. Martins Fontes, 2010)


Crítica é juízo, tanto idealmente quanto em termos etimológicos. Compreender o juízo, portanto, é a primeira condição para uma teoria sobre a natureza da crítica. As percepções fornecem ao julgamento seu material, quer ele diga respeito à natureza física, à política ou à biografia. O conteúdo da percepção é a única  coisa que faz diferença nos juízos subsequentes. Visto que a matéria da crítica estética é percepção dos objetos estéticos, ela é sempre determinada pela qualidade da percepção direta; a obtusidade na percepção nunca pode ser compensada por nenhum volume de conhecimentos, por mais vastos que sejam, nem pelo domínio de teorias abstratas, seja qual for a sua correção.

Pensa-se, comumente, na crítica como se sua tarefa não fosse a explicação do conteúdo de um objeto, em termos da substância e da forma, e sim um processo de absolvição ou condenação com base em méritos e deméritos. Grande parte desta crítica de tipo judicativo provém de uma desconfiança subconsciente que o indivíduo tem de si mesmo e do consequente apelo à autoridade em busca de proteção. A percepção é obstruída e abreviada pela lembrança de uma norma influente e pela substituição da experiência direta pelo precedente e pelo prestígio. O desejo de uma posição de autoridade leva o crítico a falar como se fosse o defensor de princípios estabelecidos, com uma soberania inquestionável. Infelizmente, tais atividades contaminaram a própria concepção de crítica.

Talvez esta situação se deva ao fato de que o julgamento definitivo, aquele que resolve uma questão, é mais compatível com a impenitente natureza humana do que o juízo que constitui o desenvolvimento reflexivo de uma percepção reconhecida a fundo. A experiência satisfatória original não é fácil de obter, sua conquista é um teste da sensibilidade inata e da experiência amadurecida através de amplos contatos. O juízo, como ato de investigação controlada, exige uma formação rica e uma visão disciplinada. É muito mais fácil “dizer” às pessoas em que elas devem acreditar do que discriminar e unir. E a plateia que, por sua vez, está habituada a receber ordens, em vez de ser ensinada a usar o pensamento para indagar, gosta de receber ordens.

Todo profissional está sujeito à influência dos costumes e da inércia, e tem de se proteger dessas influências através de uma receptividade intencional à própria vida. O crítico judicativo erige em princípio e norma justamente as coisas que constituem os perigos de seu ofício. A desastrada inépcia de boa parte da chamada crítica judicativa provocou uma reação que tendeu para o extremo oposto. Com efeito, se não em palavras, ela constituiu uma negação de que a crítica, no sentido do juízo, fosse possível, e uma asserção de que o julgamento devia ser substituído pela afirmação das reações a sentimento e imagens provocadas pelo objeto artístico. Mas não decorre daí que a crítica objetiva da arte seja impossível, nem porque o crítico possa perder-se em irrelevâncias e ditos arbitrários nem pela inexistência de um objeto externo uniforme e publicamente determinado.

O crítico, em virtude do elemento de risco, revela-se em suas críticas, mas se for cauteloso, emitirá seu juízo sobre o objeto de um modo que seja um resumo do resultado de seu exame objetivo. Perceberá que sua afirmação, ou avaliação, será testada por outras pessoas, em uma interação perceptual direta com objeto. Sua crítica será como um documento social e poderá ser verificada por outros a quem o mesmo material objetivo for disponibilizado. Por isso, se o crítico for sensato, mesmo ao fazer pronunciamentos sobre bom e ruim, de grande ou pequeno valor, dará mais ênfase aos traços objetivos que respaldam seu juízo do que aos valores.

Se por um lado, não existem padrões para as obras de arte nem, por conseguinte, para a crítica (do modo como existem padrões de medida), existem, por outro lado, critérios de julgamento, para que a crítica não caia no terreno do mero impressionismo. As discussões sobre a forma em relação à matéria, do significado do veículo na arte e da natureza do objeto expressivo proporcionam que se estabeleçam critérios. É importante lembrar que critérios não são regras nem receitas. São o resultado de um esforço para descobrir o que é uma obra como experiência, que tipo de experiência a constitui. A crítica é um juízo, e o material de que brota o juízo é a obra, o objeto, que entra na experiência do crítico, pela interação com sua sensibilidade, seus conhecimentos e seu reservatório acumulado de experiências passadas. Na medida em que suas conclusões sejam válidas, elas serão úteis como instrumentos para a experiência pessoal, mas não como ditames sobre qual deve ser a atitude de alguém.

Os critérios quanto ao seu conteúdo, variam conforme o material concreto que os evoca e devem respalda-los, para que a crítica seja pertinente e válida. Todavia os juízos tem uma forma comum, porque todos tem certas funções a cumprir. Essas funções são a discriminação e a unificação. O julgamento tem de evocar uma consciência mais clara das partes componentes e descobrir com que coerência essas partes se relacionam na formação do todo. A teoria dá os nomes de análise e síntese à execução dessas funções. Elas não podem ser separadas uma da outra, porque a análise é a revelação das partes como partes de um todo, de detalhes e particularidades como pertencentes a uma situação total, a um universo de discurso. A salvaguarda do crítico para desenvolver a análise é o interesse absorvente e bem informado.

Para o crítico do campo da arte, o saber deve ser o combustível do interesse caloroso. Esse interesse esclarecido significa a familiaridade com a tradição de sua arte específica, uma familiaridade que é mais que o conhecimento dela, uma vez que deriva da intimidade pessoal com os objetos que formaram a tradição. Como não existe arte em que haja apenas uma tradição, o crítico que não está intimamente familiarizado com uma variedade de tradições é necessariamente limitado, e suas críticas serão parciais e distorcidas. Uma vez que a forma sempre se integra com a matéria, o crítico apreciará a multiplicidade de formas especiais que existe quando sua experiência for genuinamente estética, e estará atento à identificação com uma forma ou técnica que venha a preferir ao se deparar com um trabalho sem precedentes. O conhecimento de uma vasta gama de tradições é uma precondição da discriminação exata e rigorosa. E na maioria dos casos, a discriminação do crítico tem de ser auxiliada pelo conhecimento do desenvolvimento do artista, tal como evidenciado pela sucessão de seus trabalhos.

Há, então, uma fase unificadora e uma fase discriminadora do juízo, a primeira tecnicamente conhecida como síntese, distinta da análise. Essa fase unificadora, mais ainda do que a analítica, é função da reação criativa do indivíduo que julga. É o lampejo de compreensão. É nesse ponto que a própria crítica se transforma em arte. A análise, a discriminação, deve resultar na unificação. Para ser uma manifestação do juízo, ela deve distinguir as particularidades e as partes com respeito a seu peso e função na formação de uma experiência integral. Sem um ponto de vista unificador, baseado na forma objetiva de uma obra de arte, a crítica termina em uma enumeração de detalhes. O que se pretende dizer é que o crítico deve captar um fio ou tendência que esteja realmente presente, e expô-lo com clareza suficiente para que o espectador tenha uma nova pista e orientação em sua experiência.

Vários modos de unificação por parte do crítico são legítimos, desde que duas condições sejam atendidas. Uma delas é que o tema e a concepção selecionados pelo interesse estejam realmente presentes na obra, e a outra é a exibição concreta dessa condição suprema: é preciso mostrar que a tese dominante é coerentemente mantida em todas as partes da obra. Desta forma se evitam duas falácias da crítica estética, sejam o reducionismo e a confusão de categorias. A falácia reducionista resulta da simplificação exagerada. Existe quando um componente da obra de arte é isolado e o todo é reduzido aos termos desse único elemento isolado, como, por exemplo, reduzir a obra exclusivamente aos valores representativos. O mesmo princípio se aplica quando a técnica é tomada para além da sua ligação com a forma. Um exemplo mais específico encontra-se na crítica feita a partir de um ponto de vista histórico, político ou econômico. Não há dúvida de que o meio cultural está dentro e fora das obras de arte. Ele entra como componente genuíno, e reconhece-lo como elemento é uma discriminação correta, mas não se trata de reduzir as obras a documentos históricos. Observa-se um tipo mais extremado da falácia reducionista quando as obras de arte são “explicadas” ou “interpretadas” com base em fatores incidentais presentes nelas. Grande parte da chamada crítica “psicanalítica” é dessa natureza.

A outra forma principal de prevalência desse tipo de falácia reducionista é na chamada crítica sociológica. O conhecimento das condições sociais da produção, quando de fato é um conhecimento, tem autêntico valor, mas não substitui a compreensão do objeto em suas próprias qualidades e relações. Somos assim levados à outra grande falácia do juízo estético, que aliás se mistura à falácia reducionista: a confusão de categorias. Por exemplo, existem categorias – isto é, concepções de controle da investigação – apropriadas à história, e o resultado é apenas confusão quando elas são usadas para controlar o estudo de uma arte que também tem ideias próprias. O que se aplica à abordagem histórica se aplica às outras modalidades de tratamento. Dentre as formas dessa falácia, a mais comum é supor que o artista parte de um material que já tem status reconhecido, seja ele moral, filosófico, histórico ou o que for, e o torna mais palatável usando um tempero emocional e uma roupagem imaginativa. A obra de arte é tratada como se fosse uma reedição de valores já correntes em outros campos da experiência. Há uma profunda distinção entre o veículo de uma obra de arte – o portador intelectual por cujo meio o artista recebe seu tema e o transmite a seu público imediato – e a forma e a matéria de seu trabalho.

Dado que o propósito do objeto estético é a acentuação da própria experiência direta, a arte usa o veículo adequado à consecução desse objetivo. O equipamento necessário do crítico é, em primeiro lugar, ter a experiência e, depois, fazer com que se revelem seus componentes em termos do veículo usado. Para o crítico, a questão é a adequação da forma à matéria, e não da presença ou ausência de uma forma particular. Há aqui um problema o qual o artista e o crítico tem que enfrentar: a relação entre a permanência e a mudança. A natureza e a vida não manifestam um fluxo, mas uma continuidade, e a continuidade envolve forças e estruturas que perduram através da mudança. O crítico que não for tão sensível aos sinais de mudança quanto ao recorrente e ao duradouro usará o critério da tradição, sem compreender a natureza dela, e recorrerá ao passado em busca de padrões e modelos, sem se dar conta de que todo passado foi, um dia, o futuro iminente de seu passado, o passado da mudança que o presente constitui.

Uma filosofia da experiência que seja agudamente sensível às incontáveis interações que compõem o material da experiência é a filosofia na qual o crítico poderá buscar inspiração. A função da crítica é reeducar a percepção das obras de arte. A concepção de que sua tarefa é avaliar, julgar no sentido jurídico e moral, bloqueia a percepção dos que são influenciados pela crítica que assume esta tarefa. A função moral da crítica se exerce de forma indireta. É o indivíduo que tem uma experiência ampliada e intensificada que deve fazer sua avaliação por si mesmo. A maneira de ajuda-lo é pela expansão de sua experiência de obra de arte, da qual a crítica é subsidiária. Só se capta a plena significação de uma obra de arte ao se passar, em nossos próprio processos vitais, pelos processos por que passou o artista na produção de seu trabalho. É privilégio do crítico participar da promoção desse processo ativo, e não impedi-lo a outrem.

domingo, 4 de novembro de 2012



Trigésima Bienal de São Paulo: A Iminência das Poéticas

A emoção do cotidiano








Para o curador desta Trigésima Bienal,
Luiz Pérez-Oramas, venezuelano radicado em Nova Iorque, o objetivo desta Bienal é "oferecer um olhar que faça sentido, um olhar que se faça a si mesmo junto à inteligência e ao olhar dos outros" (http://www.bienal.org.br, acesso em 04/11/2012). Ele desenvolveu seu trabalho em conjunto com André Severo (Brasil), Tobi Maier (Nova Iorque) e Isabela Villanueva (Nova Iorque), e seus objetivos são descritos como: aglutinar, dar espaço para processos artísticos que se colapsam mutuamente e inventar um espaço real. Foram eleitos como conceitos para orientar seu trabalho " sobrevivências", "alterformas", "derivas", "vozes" e "constelações".

Ainda para Luiz Oramas, "a dimensão constelar da Bienal, se encontra, no fim de contas, nos olhos e na mente de cada espectador, na medida em que este se abra à experiência da Bienal" (Idem). Este espaço para estar, aglutina 111 artista e cerca de 3.000 obras. De cada artista estão expostos pelo menos dois processos criativos diferentes, às vezes mais. Estão presentes as três Américas, a Europa, a Ásia e a Oceania. Além da exposição estão em andamento palestras, seminários, ateliês e ações performáticas, até dezembro. Uma "plataforma de encontro para  a diversidade" (Heitor Martins, Presidente da Fundação Bienal São Paulo, Idem).

Durante o longo passeio pelos pavilhões é possível se encontrar-se com todos os tipos de pessoas e de expectativas. Pude ouvir comentários do tipo "nada choca a gente nesta Bienal", "esta Bienal é muito fraca, não tem nada de novo", "grande demais", "de tudo um pouco", entre inúmeros outros. Encontrei uma forma de organizar aquela babel para mim mesma, e compartilho aqui, como forma de iniciar um diálogo. Ou não...

No primeiro pavilhão pareceu-me encontrar o resumo da proposta da mostra, no sentido de que há palavra, imagem em movimento, pintura, escultura e instalação, voltadas para a ideia mesma de iminência... tudo pode acontecer ao transitarmos por ali: decidirmos ir embora, despertar-se nossa curiosidade, ver tantas palavras substituindo imagens que a noção de visual se enevoa, enormes dúvidas e sensações misturadas de sim e de não. De todo modo, há humor nos vídeos e imagens de Ilene Segalove, nos quais o cotidiano feminino revela elementos estéticos nas roupas, nos hábitos e nas experimentações para dar movimento à vida. Há uma delicadeza e uma fragilidade imensas nas instalações de Fernando Ortega, que coloca o mínimo, o milimétrico no centro da vida, como a nos fazer lembrar de que há muito mais entre o céu e a terra do que a nossa vã filosofia pode supor... O pavilhão um dá indícios de que vamos nos encontrar com a arte que está no ato de viver, com uma arte que não quer sair da vida, talvez ao contrário, deseja que a vida se mostre plena de estímulos e de belezas. Uma atmosfera de dúvida e de necessidade de movimento já se instaura, repetindo aos nossos sentidos que será necessário se mover do nosso lugar de observadores para outro de agentes, se quisermos fruir aquela babel inconsútil.

Subindo a rampa, nos deparamos com um alto falante estático: David Moreno dá som a rostos inertes, e repete e repete e repete e repete a figuração deste som, causando uma sensação de barulho e de excesso de vozes não tão dissonantes entre si. Em mim despertou o riso... como tantas  cabeças e línguas poderiam se entender? Nossa atualidade é capaz de se ouvir? O segundo pavilhão pareceu-me reunir toda a iminência vislumbrada pela curadoria... a imagem em movimento, os objetos do cotidiano, as obras que exigem o corpo movimentado do fruidor para existirem, os objetos-de-entrar e a relação com os elementos naturais, com a água e a argila em Nydia Negromonte, sugerem que a arte está, antes de tudo, no ato de viver. Uma doce poesia de simplicidades e temporalidades atravessou meu ser, a ponto de me emocionar várias vezes, e de me colocar num lugar de humildade diante das possibilidades que a vida e o cotidiano oferecem, e que deixamos se esvaírem, sem cuidado e nem importância. Iván Argote "retrata em movimento" o olhar de anônimos na sua relação com uma câmera parada próxima a uma faixa de travessia de pedestres numa movimentada avenida, que pode ser em qualquer lugar do mundo... uma iminência de fama, de contato, de roubo da imagem... o olhar direto para a câmera nos vê, aqui do outro lado, e se comunica conosco, de modo dramático. Nada é dito, e nem precisa, trocar olhares e sorrisos ou caretas já é suficiente para se sentir para além daquela poltrona, num mundo de vidas paralelas e silenciosas. Passo a passo chegamos a Elaine Reichek, aquela que borda a vida como Ariadne, colocando a linha no fio da existência, lembrando o poder da trama e do tecido em registrar e provocar a vida e a arte. Delicadeza e força, feminino e monstruoso relato das relações entre humano e inumano.

O segundo pavilhão causou-me profundos prazeres. Me senti no mundo que a arte poderia (ou pode) realizar, se deixássemos o mercado de lado. Sei, impossível rebobinar a história. Nunca mais nos livraremos da experiência de vender que se inscreveu na nossa carne. Mas ainda se pode delirar com Ian Hamilton Finlay, e ver nos jardins e nas esculturas em pedra um marco da potência do humano de deixar rastros e reelaborar símbolos, transformando sua aplicação e o modo de ser engendrado por eles. O bordado de f. marquespenteado colore e enobrece a roupa, a cortina, a toalha de mesa, a almofada, enfim, a vida de novo. Tudo no cotidiano tem potencial estético, volto a pensar e a repetir em voz alta. Esta é a contemporaneidade da arte? Rodrigo Braga briga com o Tônus, sem dó, sem piedade, sem temperança nenhuma, e oferece "fotografias em movimento" capazes de aglutinar no espírito a dor e a delícia de se ser parte da natureza. E Artur Bispo do Rosário nunca mentiu: se ouvem as vozes pedindo que reorganizemos o mundo, para podermos encontrar os deuses... cada um terá sua oportunidade e seu dia, preparem-se.

O terceiro pavilhão, à parte tudo o que deixei para trás no segundo e que continua povoando minha memória, invade o olhar. Ricardo Basbaum nos oferece um "lugar para estar. A queda de Bas Jan Arder ilimita a vida. A composição em Sigurdur Gudmundsson opõe animado e inanimado como faces de mesma moeda (sic). As instruções de Alan Kaprow, leves e adocicadas, são tão absurdamente atuais na sua singeleza e humanidade que dá um certo medo... medo de esta atualidade sem ele nos fazer esquecer que o que realmente importa é ser, ser junto, estar, estar com, o ser só o é em relação. Sei bem, que o estado de espírito interfere (interioriza e fere) na relação com uma exposição de objetos e ações artísticas. Não me pretendo mais que, ou melhor entendida que, ou qualquer outro mais. Quero compartilhar essa doçura que a Trigésima Bienal me despertou pela vida. Pela simplicidade, pelo cotidiano e pela motivação para viver bem, com luzes e cores, com caprichosas arrumações e religação com o que a vida oferece ininterruptamente. É por isto, quase com certeza mas não somente, que Nino Cais me encantou até o âmago! Sua cozinha, seu corredor, sua área e sua prancheta descobrem a vida toda o tempo todo! Obrigada!!!

 Poderia continuar escrevendo sem parar... sobre erotismo, sobre repetição, sobre igualdade na diferença, sobre fotografia, sobre óleo sobre tela, sobre cor e sobre sombras. Tudo em mim está delicadamente remexido, ou em turbilhão absoluto, ou ainda em dúvida. Ser no mundo, é a minha primeira conclusão do que quiseram dizer as Iminências das Poéticas.



domingo, 28 de outubro de 2012

Critica de Teatro


Crítica de Teatro

Uma crítica no seu sentido de análise e de juízo de valor, pode ser emitida por toda e qualquer pessoa, se considerarmos que todos temos opiniões sobre o que nos atinge e acontece. No caso da crítica sobre a ação ou o objeto artístico, esta análise pode ser mais ou menos profunda, intelectualizada ou emotiva, com objetivo mercadológico ou não. O aprendizado da crítica, que é uma habilidade do fruidor de Arte, pode se dar no estudo sistematizado, como também na frequência aos eventos artísticos, contudo, é fato que na medida em que esta apresenta mais que a pura avaliação pessoal e subjetiva, e avança para um argumento em relação  a aspectos e elementos objetivos daquele evento, ela se torna mais atraente, contundente, estimulante.

O teatro brasileiro viveu bons momentos de relacionamento com críticos, que eram literatos e jornalistas. Décio de Almeida Prado (1917-2000) foi professor de História do Teatro (EAD- USP), diretor  e editor do Suplemento Literário  do jornal Estado de São Paulo, além de crítico de teatro para o mesmo jornal. Sua trajetória serve de baliza para a própria estruturação da crítica de teatro no país. No jornal, contou com a colaboração de Antônio Cândido (1918-) e Paulo Emílio Salles Gomes  (1916-1977), também professores, literatos e críticos de teatro, cinema e literatura. A arte de criticar um objeto artístico, para estes iniciadores da crítica às artes cênicas no Brasil, se vinculava à ação mesma de realizar Arte, de experimentar-se a si como artistas e de se colocarem em discussão, sejam os seus pensamentos sejam as suas ações.

O projeto de elaboração da crítica da cena no Brasil absorveu  a inquietude de jovens estudiosos nos anos 1950 e teria seguido amadurecendo nos anos 1960, se a ditadura dos militares não tivesse interrompido o fluxo de engajamento e de crescimento da própria intelectualidade orgânica brasileira e, também, do nosso mundo artístico. Talvez esta vida interrompida seja uma das razões para o verdadeiro pavor que a crítica desperta no mundo do teatro brasileiro, e para o sentimento de vingança que a crítica pode despertar em alguns dos artistas. Este exercício tem entrado no processo artístico como forma de venda dos espetáculos, e, quase nunca, como debate inteligente sobre a influência social, educativa e política da arte teatral, quanto menos do seu poder de dar prazer.

Podemos lembrar de vários críticos que tem se deslocado para a rede internet, tornando-se mais livres e estimulando novos formatos para o exercício da crítica, como Macksen Luiz, Lionel Fischer, Edgar Olímpio de Souza, Ida Vicenzia, Luciano Mazza, Marcelo Aquila, Dinah Cesare, entre outros. Esta crítica brasileira respira fora dos jornais e impressos em geral, oferecendo visões e argumentos capazes de arejar a prática teatral, e, acima de tudo, ampliando a relação do artista com a crítica, que precisa deixar de ser a vilã, suposta responsável pelo pequeno número de espectadores nos espaços de apresentação.

A ausência do espectador, me parece, está relacionada, antes, à ausência de Arte na sua vida, desde a infância. Nem a escola, nem a família, nem mesmo a Arte brasileira desenvolve processos consistentes de aprendizado do prazer artístico. A falácia do acesso se entranhou de tal forma no procedimento de artistas, coletivos, instituições e governos, que passou-se a agir como se bastasse oferecer a “bolsa ingresso” para que o povo exercesse sua cidadania artística e cultural… O acesso adquire importância na medida em que seja completo: acesso à diversidade, à qualidade e ao aprendizado sobre apreciação. Saber olhar e perceber um objeto ou vivenciar uma ação artística necessitam ser aprendidos. Não são puros efeitos da intuição. E neste particular, muito há que se discutir com o artista brasileiro, que se recusa a ser professor, deixando esta tarefa a educadores físicos, gramáticos, geógrafos, linguístas, enfim, a outros que estejam disponíveis para participar da escola. A lição de Décio de Almeida Prado e de seus parceiros nos idos tempos modernistas, parece estar diluida na forma como o artista brasileiro se relaciona com seu fruidor… Talvez seja este um bom primeiro passo para revigorar a casa de espetáculos: abri-la para ser conhecida pelos espectadores, desde seu ambiente físico até o modo como são escolhidos e realizados os espetáculos, ou exercícios, ou experimentos cênicos. Certamente ganharíamos todos com tal prática.



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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Para pensarmos:

Crítica de Arte      
Definição
Em sentido estrito, a noção de crítica de arte diz respeito a análises e juízos de valor emitidos 
sobre as obras de arte que, no limite, reconhecem e definem os produtos artísticos como tais. 
Envolve interpretação, julgamento, avaliação e gosto. A crítica de arte nesse sentido 
específico surge no século XVIII, num ambiente caracterizado pelos salões literários e 
artísticos, acompanhando as exposições periódicas, o surgimento de um público e o 
desenvolvimento da imprensa. Os escritos de Denis Diderot (1713-1784) exemplificam o feitio 
da crítica de arte especializada, que se ancora em formulações teórico-filosóficas, mas traz a 
marca do comentário feito no calor da hora sobre a produção que se apresenta aos olhos do 
espectador. Nesse momento, observam-se as primeiras tentativas de distinguir mais 
nitidamente crítica de arte e história da arte, que aparecem como domínios distintos: o 
historiador voltado para a arte do passado e o crítico comprometido com a análise da produção
 do seu tempo. A despeito desse esforço em marcar diferenças, as dificuldades em estabelecer 
limites claros entre os dois campos se mantêm até hoje. Embora distintos, os campos da história 
e da crítica de arte encontram-se imbricados; afinal o juízo crítico é sempre histórico, na medida 
em que dialoga com o tempo, e a reconstituição histórica, inseparável dos pontos de vista que 
impõem escolhas e princípios. As meditações sobre o belo, no domínio da estética, alimentam 
as formulações da crítica e da história da arte.
Numa acepção mais geral, escritos que se ocupam da arte e dos artistas são incluídos na categoria
 crítica de arte, como é possível observar nos dicionários e enciclopédias dedicados às artes visuais.
A história da arte compreende a história da crítica, dos estudos e tratados que emitem diretrizes
teóricas, históricas e críticas sobre os produtos artísticos. Os primeiros escritos sobre arte remetem
à Antigüidade grega. Biografias de artistas (como as escritas por Duride di Samo, século IV a.C.),
tratados técnicos sobre escultura e pintura, de Senocrate di Sicione e Antigono di Caristo,
século III a.C., aos quais se junta, na época romana, o tratado de arquitetura de Vitrúvio,
De Architectura, e "guias" artísticos (como o escrito por Pausaniam, século II a.C.) estão entre os
primeiros textos dedicados à arte. Nesse contexto, o pensamento estético de Platão e Aristóteles
levanta problemas fundamentais sobre o fazer artístico: a questão da fantasia (ou imaginação
criadora), do prazer estético, do belo e da imitação da natureza (mimesis).
O período medieval não oferece uma teoria da arte ou crítica de arte sistemática, dominam
as meditações de ordem teológica, as formulações técnicas e os repertórios iconográficos, com a
 indicação de exemplos a seres copiados. Na Itália florentina do século XIV, as condições
econômico-sociais renovadas se exprimem em um ambiente artístico mais rico e em escritos
sobre arte originais. Filippo Villani escreve um livro em homenagem a sua Florença natal, 1381-1382,
em que destaca a vida de artistas da Antigüidade. Cenino Cennini (ca.1370-ca.1440), com descrições
 detalhadas da pintura a têmpera e do afresco, abre possibilidades para análises do material artístico.
A época renascentista traz interpretações científicas da natureza, apoiadas na matemática e
na geometria. Leon Battista Alberti (1404-1472) e Leonardo da Vinci (1452-1519) são os principais
teóricos do período, notáveis pelas tentativas de conferir fundamento teórico e base científica às obras.
Também se esboçam histórias da arte construídas pelo filão da vida de artista, comoComentários, de
Lorenzo Ghiberti (ca.1381-1455),  e As Vidas dos mais Excelentes Pintores, Escultores e Arquitetos,
de Giorgio Vasari (1511-1574), que se tornam modelares para a produção de Andréa Palladio (1508-1580).
O surgimento das academias de arte coincide com a crise dos ideais renascentistas expressa no
maneirismo - teorizado por Giovanni Pietro Bellori (1613-1696) e Luigi Lanzi (1732-1810) - e marca uma
 mudança radical no status do artista, personificada por Michelangelo Buonarroti (1475-1564). Não mais
artesãos das guildas e corporações, os artistas são considerados a partir de então teóricos e intelectuais,
 o que altera o caráter dos escritos sobre arte. As novas instituições têm papel fundamental no controle da
 atividade artística e na fixação de padrões de gosto. Na academia francesa, fundada em 1648, observa-se
 uma associação mais nítida entre o órgão e uma doutrina particular, com base no classicismo e na obra
do pintor francês Nicolas Poussin (1594-1665). Controvérsias têm lugar no interior das academias,
por exemplo, aquela que envolve Roger de Piles (1635-1709), admirador de Rubens (1577-1640),
contra os defensores de Poussin.
Nos séculos XVIII, apogeu das academias, e XIX, os teóricos do neoclassicismo Anton Raphael Mengs
(1728-1779) e, sobretudo, Joachim Johann Winckelmann (1717-1768) rompem definitivamente com o
modelo fornecido pela "vida de artista", apoiando suas interpretações em testemunhos históricos e no
esforço de compreensão da linguagem artística propriamente dita. Tanto o clássico quanto o romântico
são teorizados entre a metade do século XVIII e meados do século XIX. O contexto em que as novas idéias
 se enraízam é praticamente o mesmo: as contradições ensejadas pela Revolução Industrial e Revolução
Francesa. O romantismo é sistematizado histórica e criticamente pelo grupo reunido com os irmãos Schlegel
 na Alemanha, a partir de 1797, ao qual se ligam Novalis, Tieck, Schelling e outros. A filosofia de Jean-Jacques
 Rousseau (1712-1778) está na base das formulações românticas alemãs e tem forte impacto no
pré-romantismo do sturm und drang [tempestade e ímpeto].
O século XIX assiste à expansão das exposições de arte e à ampliação do campo de atuação do crítico.
Vale lembrar que os pintores, estão envolvidos no debate crítico com suas obras e escritos, por exemplo,
Eugène Delacroix (1798-1863) e suas considerações sobre o romântico, e Gustave Courbet (1819-1877),
 responsável pelo estabelecimento de um padrão de arte realista. A partir daí, os literatos passam a
ocupar papel de ponta nas discussões sobre arte em geral, entre eles Stendhal (1783-1842), os irmãos
Edmond Goncourt (1822-1896) e Jules Goncourt (1830-1870) e Émile Zola (1840-1902), o crítico do
impressionismo. Mesmo nos movimentos de vanguarda dos primeiros decênios do século XX, escritores
e poetas mantêm suas posições de críticos de arte atuantes - Apollinaire (1880-1918), cujas formulações
são fundamentais para o cubismo, e André Breton, escritor e teórico do surrealismo. A crítica de Charles
Baudelaire (1821-1867), em especial seu célebre ensaio O Pintor da Vida Moderna, sobre Constantin
Guys (1805-1892), mostra-se fundamental para a definição de arte moderna e da própria idéia de
modernidade. O moderno, declara Baudelaire, não se define pelo tempo presente - nem toda a arte do
período moderno é moderna -, mas por uma nova atitude e consciência da modernidade.
Acompanhar a história da crítica de arte no século XX obriga à consideração detida de diversas perspectivas
 teórico-metodológicas, que informam tanto a crítica propriamente dita quanto a história da arte, assim como
o levantamento da crítica mais militante, veiculada pelos jornais e revistas especializadas. No Brasil,
o surgimento da crítica de arte liga-se à criação da Academia Imperial das Belas Artes (Aiba) ,
no Rio de Janeiro, em 1826, que inaugura o ensino artístico formal no país. Seu primeiro representante
é o pintor, crítico e historiador de arte Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879), que a dirige entre
 1854 a 1857. Porto Alegre confere importância destacada à pintura de paisagem que deveria, segundo ele,
 sair da cópia de estampas e dos quadros da pinacoteca e voltar-se para o registro da natureza nacional,
no entanto ele defende o estabelecimento de uma tradição depintura histórica brasileira.

http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/

Atualizado em 16/01/2012.

Em compensação sobre a crítica de teatro, só se encontram textos jornalísticos e anúncios de eventos.
Por que será?

quarta-feira, 10 de outubro de 2012


"Pra lá do arco-íris"

"Com texto baseado na obra da escritora Andrea Sophia, "As Crianças Encantadoras de Música e o Arco-Íris", o espetáculo Prá Lá Do Arco-Íris (...) tem linguagem dinâmica e envolvente, inspirada em desenhos animados, conta as aventuras de Cenzo, um garoto comum e sem cor que vivia insatisfeito em sua cidade natal, Fumaçópolis. Até que um dia, acidentalmente, é transportado para um mundo mágico e cheio de sons chamado Musicolândia. Lá faz novos amigos e descobertas, além de muita confusão envolvendo um grande mistério.  Direção Polyana Horta. (BH/MG) (Fonte: http://www.soubh.com.br/plus/modulos/agenda/ver)

Veja vídeo ilustrativo em: http://youtu.be/KmDrHT1PIHA

       Assistir a um espetáculo teatral elaborado para crianças é para uma adulta uma tentativa de ampliar sua própria criança e desenvolver novas formas de olhar para o mundo e para o outro. Digo isso porque a simplicidade e a objetividade são características do mundo dos pequenos que vamos perdendo no decorrer da construção de nossa máscara social e adulta. De qualquer forma, é possível enxergar a vida que está por trás deles, isto é, dos atores e atrizes, das cores, dos sons, enfim, da proposta lúdica que nos fazem no ambiente teatral. Aqui vou tentar descrever o que pude ver e perceber diante deste espetáculo, como forma de exercitar minha própria capacidade crítica e lúdica...
        Inicialmente o palco é tomado por luzes e objetos, sem a presença de atores. Uma música toca no aparelho eletro-eletrônico, nos convidando a entrar num jogo no qual os sons parecem vir do além, do além daquele momento e também do além daquele espaço, como se sua fonte não estivesse ali no mesmo ambiente que nós. Me parece que esta opção, de tratar o som musical como elemento de fundo, que não deve ser "pensado" porque está ali para colorir nossas impressões, não se coaduna com a nossa atualidade... a perspectiva teatral, tantos já disseram, se estabelece e realiza no "ao vivo" aqui e agora, e a musicalidade do ambiente teatral precisa nos trazer para um mundo presente, onde todos estamos em conjunto, brincando de experimentar outras possibilidades de viver... Mesmo reconhecendo que há questões de gosto envolvidas nesta afirmação, minha reflexão vai no sentido de que esta opção pela música tocada no aparelho eletro-eletrônico que somente serve de fundo para as ações dos objetos e personagens na cena já não se comunica com o espectador educado pela imagem em movimento e que vive diante das mídias de imagem em movimento. E portanto deixa a perspectiva teatral fraca, sem revelações para o espectador atual, criança e adulto.
        Em termos do estilo ao qual se poderia afiliar o espetáculo "Pra lá do Arco-íris", percebe-se que esta não foi uma preocupação levada muito adiante pela encenação. Ao mesmo tempo ve-se cenas interessantes e sem fala, cenas dançadas e cenas (muito) faladas, sem que nenhuma predominância nos indique uma perspectiva de aprofundamento numa linguagem. Vemos uma encenação fragmentada, com momentos interessante e outros frágeis, de modo que sua irregularidade não consegue absorver a fantasiação e conduzi-la para novos tempos e espaços... vemos um espetáculo que não se decidiu a perseguir um desejo, apenas realizou ideias misturadas.
       A plasticidade da cena corresponde à mesma fragmentalidade descrita em torno de seu estilo. Biombos, móveis, objetos e figurinos não apresentam uma unidade, sem querer aqui solicitar nenhum purismo. Os biombos não traduzem um espaço, por serem pequenos e, com licença para dizer, mal executados tecnicamente. Os objetos são visivelmente inadequados para o vai e vem de movimentos e correrias nos quais são usados, como se o cenotecnista acreditasse que eles seriam apenas vistos, e não manipulados. Os figurinos traduzem um maniqueismo entre o cinza e as cores, como se o cinza fosse necessariamente triste e o colorido necessariamente alegre... É pena, porque nem uma tribo, a dos moradores de "Musicolândia", nem a outra, dos moradores de "Fumaçopolis", se mostra influenciado por suas vestes ou elas definem seus carácteres. Ambos se comportam de maneira atabalhoada e estereotipada, sem que seja possível perceber por seu modo de ser e de agir a diferença entre estas duas tribos.
       Sei o quanto é difícil realizar um espetáculo de teatro no nosso país, com todas as necessidades de uma estreia, de um projeto, de um orçamento. Mas ouso querer, desejar que cada trupe se esforce por realizar de fato uma proposta de ação lúdica e de inventividade dentro de suas possibilidades. A emoção, ou a capacidade de se mover do próprio espaço em direção a novos movimentos e pensamentos, é em última instância o objetivo do teatro, penso. E "Pra lá do Arco-íris" se perde, sem objetivo claro, sem nos propor como espectadores um projeto, uma medida de interação e convivência. Fica lá no palco, meio sozinho, sem nos ver e sem nos dar a oportunidade de entrar no seu mundo. Não porque os atores não nos vejam, ao contrário nos olham e falam conosco e para nós, mas porque a parede invisível que separa palco e plateia está incerta e cambaleante, sem certeza de qual é seu lugar nesta história.
       Espero que a vida do espetáculo amplie sua percepção de proposta estética (porque ela deve estar lá, mesmo que ainda inconsciente), e que possam sair do mundo da televisão para fazer um teatro vivo e incandescente. As crianças sorriem, comentam, mas não levam nenhuma marca corporal densa para suas vidinhas, porque são tratadas como "sentadores de cadeiras", levados a escutar, escutar, escutar e aplaudir com o adulto no final. Luto por um teatro teatral e vivo!!!!!!
Até a próxima.

sábado, 6 de outubro de 2012

No começo era o desejo...

Ser o sujeito de uma obra de arte é deparar-se com o sujeito que a obra de arte é. É como se fomes de várias naturezas e tamanhos movessem estes sujeitos a ações e objetos que exprimem, materializam e atualizam manifestações intelectuais, fiolosóficas e estéticas. Estas fomes tem um caráter perceptivo, são compostas por saberes intelectuais e emocionais, por afetos, vínculos espaço-temporais, econômicos e socioculturais. E todos estes elementos concorrem para a habilidade de fruir manifestações artísticas. A recepção de uma manifestação de arte se expressa na crítica que se pode constituir sobre ela. Se assim for, quais são os elementos que fazem parte da recepção e que servem à estruturação de uma crítica sobre a manifestação artística? é preciso levar em consideração que uma manifestação artística absorve o seu lugar e a palavra ligada a ela, mas não os preserva, pois ela mesma se completa em si, sem a necessidade da verificação. Embora se torne arte quando alguém a designa assim, costuma ir muito além de tudo o que se possa dizer sobre ela... No caso do fruidor, as propostas de estudo que tem sido desenvolvidas sobre quem ele é, ou deveria ou poderia ser, enfatizam dois aspectos nas suas abordagens, sejam a utilização de leis próprias à psicologia e o entendimento fenomenológico de fatos, buscando relacionar ambos com as implicações estéticas de entrar em contato com processos artísticos, comunicativos e estimuladores, que em si não correspondem a vínculos ou objetivos figurativos fechados. Com o apoio de ideias filosóficas, muitas vezes concorrentes, e da história das coisas, estas propostas estão dispersas e aparecem nas entrelinhas de muitas das teorias da arte. O que parece estimulante agora é buscar compreender o processo de formulação da figura do fruidor no desejo de estranhamento e de comoção que as criações artísticas atuais tem solicitado, e a proposta de auto-compeensão do ser como alvo da manifestação artística. Parafraseando um compositor musical atual, perguntar-se: este sujeito tem fome de quê?


Primeira sugestão de elementos para desenvolver a recepção e a crítica de uma manifestação artística:
Estilo
Estrutura Técnica
Inventividade
Emotividade
Autonomia
Grau de Interação Corporal.

Será que podemos conversar sobre estes elementos?
RG.