Menina do vestido vermelho/ Marcelo Perin |
Textos: Caio Fernando de Abreu
Concepção, Dramaturgia e Atuação: Nara Keiserman
Supervisão, Iluminação e Design: Demetrio Nicolau
Orientação Musical: Alba Lírio
“Este trabalho nasceu de uma pesquisa artística e acadêmica, coisas que às vezes podem conviver, e é inspirado em alguns princípios, ideias, que eu quero partilhar com vocês”.
Nara Keiserman
Para o desenvolvimento de sua pesquisa artístico-acadêmica, Nara Keiserman elegeu os seguintes princípios: “Fogo Sagrado”, a partir de Mônica Oliveira Costa; “Leitura Corporal”, por Nereida Fontes Vilela; “Linguagem Orgânica”, de Alex Fausti; e o conhecimento dos Chakras, como podemos verificar no programa do espetáculo.
Em seu sítio eletrônico, “Núcleo Fogo Sagrado – Alinhamento Energético” (www.fogosagrado.net), Mônica Oliveira se apresenta como “fundadora do Núcleo Fogo Sagrado, que realiza seminários, workshops, palestras e forma novos terapeutas em vários países como: Alemanha (mais de trinta cidades), Áustria (Viena), Espanha, Itália.(…). Desenvolveu a técnica do Fogo Sagrado-Alinhamento Energético, a partir da experiência de alguns anos de trabalho desde 1998, com o Xamã Dior Allem (como é chamado atualmente), iniciando a formação de terapeutas em Alinhamento Energético e, após sua morte, desenvolveu a técnica aprofundando ainda mais o seu potencial terapêutico e dando o nome de FOGO SAGRADO.” Esta técnica integra a busca da consciência de que “tudo tem seu lado luz e seu lado sombra”, a percepção de que é preciso trazer à consciência novas visões sobre cada situação e que pode-se mudar o padrão interno de sentimentos, pensamentos e memórias, para atrair novas situações para a vida por sincronicidade. Seus procedimentos são: canalização, dirigência, leitura do campo de energia, limpeza do campo de energia, leitura da cura, recebimento do corpo em luz e o próprio alinhamento energético individual.
De outra parte, a Leitura Corporal praticada por Nereida Fontes Vilela (www.leituracorporal.com.br), tem como princípios básicos descrever e detalhar a função emocional de cada segmento e estrutura corporal, revelando associações entre o que se manifesta no corpo físico e os processos psíquicos e sensoriais do ser humano. Entre seus objetivos, pode-se destacar “reconhecer e exercer o convívio com o corpo, ler e compreender suas manifestações, evoluir na saúde, no plano físico e no plano sútil. A Leitura Corporal afirma que todo sinal ou sensação física permite que se perceba o fluxo saudável no adoecido, que aponta o caminho para o reequilíbrio, para a clareza, para a assimilação e o aproveitamento de cada experiência vivida”.
A “linguagem orgânica”, de Alex Fausti, é um método de autoconhecimento por meio de uma atitude de amorosidade, no qual se desenvolve uma nova percepção, tradução e ressignificação das experiências individuais. Nara Keiserman, professora de teatro e atriz, nomeia estas práticas como “alternativas, no sentido lato da palavra: que oferecem uma alternativa – rica e eficiente de metodologia pedagógica na formação do ator” . Seu trabalho na Escola de Teatro da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – Unirio, está voltado para a “pedagogia do trabalho corporal do ator” (idem), na qual “a corporeidade é considerada a partir da obra de determinados encenadores-pedagogos [Delsarte, Stanislavski, Meierhold, Laban, Artaud, Grotowski, Barba e Lehmann], colocada em confronto com saberes advindos de disciplinas não vinculadas ao Teatro” (ibidem).
A cena constituída a partir desta pesquisa é coerente com ela. Vemos um corpo intenso e vivo se movimentando com delicadeza e teatralidade. Uma voz que se multiplica em sonoridades, palavras e cantos, nos guiando pelo universo humano, demasiadamente humano de Caio Fernando Abreu. Seu vestido vermelho forte desfila várias mulheres, conflitos e prazeres entre uma mesa e duas cadeiras, trazendo à tona a dramaticidade da vida cotidiana. Nara atriz nos envolve num mundo simultaneamente próximo e distante, pois narra dores de amores, vinganças, delírios e sarcasmos que nos acompanham no dia a dia, mas que se tornam fantásticos no palco.
Um corpo que desenvolve suas percepções, que toma gestos como significantes imediatos, e que não precisa de acrobacias para se comunicar conosco, os espectadores. Somos interpelados pela presença e pela poesia desta presença. A mim me pareceu que seus estudos sobre o corpo e sua linguagem assumem facilmente a teatralidade, e se comunicam de modo profundo com nossa imaginação. Uma montagem singela e poderosa, que faz lembrar que o teatro é antes de tudo a vida intensificada em conjunto com o outro, aquele que aceita e desenvolve o jogo imaginativo.
Espero que a influência da Nara atriz se faça sobre os alunos da Nara professora, e que sua pesquisa e seu teatro contribuam para a compreensão da qualidade e da luz própria do bom teatro. Fui feliz assistindo uma demonstração de paixão aliada a uma sistematização do conhecimento artístico. Obrigada Nara!