domingo, 22 de junho de 2014

ECLIPSE


ECLIPSE

Um mergulho na obra do mestre do Teatro Russo e universal, Anton Tchékhov, pelo Grupo Galpão/MG. Com seu elenco principal dividido em dois grupos, produziram dois espetáculos diferentes: “Tio Vânia”, sob direção de Yara de Novaes (Brasil), sobre um consagrado texto dramático; e Eclipse, sob direção de Jurij  Alschitz (Alemanha), sobre a obra narrativa do autor.


Elenco: Chico Pelúcio, Inês Peixoto, Júlio Maciel, Lydia del Picchia e Simone Ordones.
Direção, Dramaturgia, Cenografia, Figurino e Treinamento: Jurij Alschitz
Assistência de Direção e Preparação Vocal: Olga Lapina
Assistência de Direção e Pesquisa de Figurino: Diego Bagagal
Direção Musical e Arranjos: Ernani Maletta
Iluminação: Chico Pelúcio e Bruno Cerezoli
Vídeo Projeção: André Amparo, Chico de Paula e Bruno Cardieri
Sonoplastia: Ricardo Garcia
Caracterização: Mona Magalhães
Tradução: Eloquent Words
Revisão de Textos: Eduardo Moreira e Arildo de Barros
Assistência de Cenografia: Amanda Gomes
Cenotécnica; Helvécio Izabel
Construção de Adereços: Raimundo Bento, Glauber Apicela e Tião Vieira
Vozes em OFF: Barabara da Luz, Helena del Picchia Pelúcio
Fotos: Guto Muniz, Miguel Aun e Bianca Aun
Projeto Gráfico: Laura Bastos
Assessoria de Comunicação: Beatriz França
Estagiários de Comunicação: João Luis Santos e Jussara Vieira
Assistência de Produção: Evandro Villela
Produção Executiva: Anna Paula Paiva e Beatriz Radicchi
Coordenação de Produção: Gilma Oliveira
Apoio Institucional: instituto Unimed-BH
Patrocínio: Petrobrás


“Anton Pavlovich Tchéchov  (1860-1904), dramaturgo e mestre do conto russo. Formou-se em medicina., profissão que exerceu durante algum tempo, mas logo abandonou, depois do sucesso de sua primeira coletânea de conto, em 1886. O tom jornalístico das crônicas humorísticas foi substituído por temas e atmosfera mais sérios; no entanto, Checkov, não perdeu a leveza e a economia de meios demonstradas desde o início. Nos últimos 15 anos do século 19 elevou o conto russo ao patamar que o romance já havia atingido anteriormente. Entre suas obras-primas está A Senhora com o cachorrinho (1889). Ao mesmo tempo, Checkov fazia experiências com o teatro, principalmente dramas curtos. Com as quatro grandes peças da maturidade, A Gaivota (1896), Tio Vânia (versão final de 1897), Três Irmãs (1901) e o Jardim das Cerejeiras (1904), produzida por Stanislavski no Teatro de Arte de Moscou. Checkov transformou-se no maior dramaturgo russo. Suas peças, que giram em torno de desejos e esperanças frustrados, evitam delicadamente o melodrama e utilizam a suposição, as referências cruzadas e os mal-entendidos para alcançar a tensão dramática.” (Nova Enciclopédia Ilustrada da Folha. Volume 1. 1996)


Há, sem dúvida, grande mérito em se dedicar à experimentação do teatro de texto e dos seus grandes autores. Tchéckov nunca vai deixar de fazer parte da dramaturgia universal. Seus textos permitem aos criadores da cena liberdade de criação, porque mantém as falas elaborada poeticamente e abrem espaço para a formulação de situações próprias às culturas de  cada encenação. Mantém espaço para a formulação de atmosferas, segundo a especificidade de cada época e de cada gênero de encenação que a ele resolva se dedicar. Em tempos pós-dramáticos, mantém,  também, espaço de revolução no uso da palavra, tão desgastada via de comunicação dos nossos tempos surdos.

Seus contos são pouco conhecidos no Brasil, apesar de contar com, pelo menos, seis volumes de tradução distribuídos pela Editora Relógio D’água, desde 2007. Ao que parece, as pessoas de teatro se interessam mais por ele que outros leitores. Não sem razão.

ECLIPSE é um espetáculo curioso. Vê-se atores aos quais estamos acostumados, pois que o Grupo Galpão faz parte de nossa história brasileira de teatro, em circunstâncias novas. Os tipos que constroem são típicos de sua forma de fazer teatro, mas estão soltos, livres da intensa caracterização e se mostram em situações de insegurança. Fato delicado e difícil para qualquer ator ou atriz. Me explico.

Vemos uma bem cuidada visualidade, com a projeção de imagens funcionando como pano de fundo, e podendo não estar ali, pois não nos remetem a nenhum novo universo que a cena já não nos relate. É bonita. Vemos figurinos que denotam tipos: o intelectual despojado de tênis, a artista frustrada de sapatilhas de ponta,  uma (talvez) feminista solitária e algo romântica arrojada no seu decote profundo, um militante cansado e  uma mulher confusa sobre o seu papel na sociedade. Claro, todas estas imagens dizem respeito a minha própria leitura, mas que faria eu naquela situação, senão ler o que se me apresentava? Tipos calculados e evidentes.

As atuações não causam surpresas ou sustos. Mostram uma sólida opção de cada um dos atores por características que os marcam e definem. Em vários momentos emocionam, noutros distanciam, e noutros ainda, parecem pretensiosos. Não se trata de inovação. Trata-se de experimentação sobre chão conhecido, e com elementos que todos, os atores em questão, sabem que funcionam. Se mantém na qualidade já conquistada, que aplaudimos pela durabilidade e pela força, mas que não trazem energia nova ou intensa.

É curioso, porque é interessante. Porque mostra uma pesquisa e opções conscientes de atuação e encenação. E porque não surpreende ou encanta.

Não é fácil fazer teatro. Não é simples se manter me cena e atender à angústia criativa que move cada um de nós, artistas da cena. Não penso que seja simples tentar se mover do lugar de conquista para alçar vôos, sejam de que tamanho forem. Me pergunto desde de que assisti a ECLIPSE: como fazer um teatro para as pessoas que somos hoje? É possível fazer arte ao vivo ainda? Qual é nosso papel como artistas da cena agora?

Não tive respostas ainda.