Direção e dramaturgia: Diogo Liberano
Assistência de Direção: Thaís Barros
Elenco: Adassa Martins, Caroline Helena, Flávia Naves e
Natássia Vello
Direção Musical: Philippe Baptiste
Cenário: Rafael Medeiros
Figurinos e Caracterização: Adassa Martins e Natássia Vello
Iluminação: Diogo Liberano e Flávia Naves
Preparação Vocal: Verônica Machado
Direção de Produção: Caroline Helena e Diogo Liberano
Registro Audiovisual e fotográfico: Carolina Calcavecchia e
Thaís Grechi
Correalização: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
“Quatro atrizes e um
diretor tentam encenar Esperando Godot de Samuel Beckett, sem sucesso”.
Como é a teatralidade na contemporaneidade? Se pensarmos no
conceito de teatralidade podemos nos questionar em conjunto com Patrice Pavis
(SP: Perspectiva, 1999), quando nos diz que:
“é preciso
busca-la no nível dos temas e conteúdos descritos no texto (espaços exteriores, visualizações das
personagens);
é preciso,
ao contrário, buscar a teatralidade na forma de expressão, na maneira pela qual o texto fala do mundo
exterior e do qual mostra (iconiza)
o que ele evoca pelo texto e pela cena?”
Podemos pensar que convivemos numa época saturada, seja de
estímulos seja de informações, que amplifica o vazio. Ou, noutras palavras,
numa época plena de intensidades mentais e afetivas, que se organiza no caos.
Numa época em que as pessoas fazem autodescrições mais que análises,
reivindicam a autoria de suas histórias no mundo, buscam demonstrar sua ideologia na sua aparência e, guardadas
as devidas proporções desta possibilidade, vivem absolutamente solitários em
seus mundos artificiais e eletrônicos.
Numa tal época, tanto os temas e conteúdos expressos nos
textos escritos, quanto os textos corporais, nos ícones que eles evocam e na
cena como exprimível do mundo, estão as teatralidades. Estão as possibilidades
de manifestação do ser no mundo, estão os vazios que proporcionam as trocas
estéticas e a construção de sentidos.
Em “Vazio é o que não falta, Miranda”, passamos minutos em
presença de seres super-humanos, que se expõe numa tentativa de construir
atmosferas. Mais que contar uma história, que seria plena de vazios por sua
temática da solidão e do indivíduo em sua elaboração de razões para ser e
estar, “Vazio” nos coloca em pleno confronto com a “aventura da conservação do
si mesmo” (Sloterdijk, 2001). Somos impactados por circunstâncias de
interpelação direta, por desestruturações de expectativas comuns ao teatro
dramático. Vivemos um dos processos do pós-dramático: “ trata-se aqui de um teatro
especialmente arriscado, porque rompe com muitas convenções. Os textos não
correspondem às expectativas com as quais as pessoas costumam encarar textos
dramáticos. Muitas vezes é difícil até mesmo descobrir um sentido, um significado
coerente da representação. As imagens não são ilustrações de uma fábula. (...).
Este trabalho teatral é essencialmente experimental, persistindo na busca de
novas combinações ou junções de modos de trabalho” (Lehman, Cosac Y Naif, 2007).
As atrizes se doam para uma composição em processo,
desenvolvendo mais um projeto que um roteiro propriamente dito. Ao que parece este projeto tem um começo, algumas chaves de mudança de atmosfera e um fim. Mas
tudo pode ser rearranjado, segundo indicações de um diretor-personagem, que se
imiscui todo o tempo na presentação das imagens e ideias. Cinco personas
ficcionais se debatem contra uma plateia indecisa... o que esperar de toda
aquela mistura de atitudes, discussões e ações cênicas? Pequenos momentos de
percepção lúcida de que somos fragmentos e fragmentados; raros momentos de
prazer intenso por não sermos aqueles seres humanos desumanizados. Mas, neste
caso para mim mesma, também intensos momentos de percepção criativa de como fazer a
cena ao vivo para as pessoas que somos hoje, com várias ilusões, truques e
mentiras, como o mais teatral dos teatros!
Divertido, controverso, poético, intrigante, provocador...
estes adjetivos me ocorrem para nomear a experiência de compartilhar o “Vazio”,
que de fato “não falta, Miranda”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
.Saber falar de sua história e saber viver sua história.